A banda curitibana acaba de lançar seu primeiro álbum, chamado "SobreTudo" pela gravadora Clinirecords.
Por Geraldo Töpera
Macedonia: Release.
Há alguns poucos anos eu curtia minha reclusão e aposentadoria, por excelentes serviços prestados ao underground, bem quietinho no meu canto. Era uma vidinha boa. Afinal, eu estava escrevendo o que viria a ser os meus “Contos Murinos” (aguardem a primeira edição), trabalhando num servicinho moleza e tomando meus tragos depois do expediente e antes de dormir. Tudo parecia se encaminhar para uma velhice tranquila e rotineira. As vezes eu achava uma chatice o estado quase letárgico em que eu estava vivendo. Porém a preguiça de vivenciar coisas passadas não me permitia alçar voos mais ousados.
Até que um belo dia fui intimado formalmente por meu velho amigo Raphael Gorny para assistir a uma apresentação de sua banda, o Macedônia. Confesso que meio que torci o nariz em um primeiro momento. Lembrei-me de todas aquelas noite embriagadas em que eu ia conhecer um grupo novo e ao final do show apenas me restava remorso e decepção. Quantas bandinhas chinfrins eu vi e ouvi naqueles tempos idos! Uma babaquice, em suma, se era isso que vocês queriam ler. Acabei indo meio ressabiado e a bebedeira já começou no fim da tarde. Precisava me encharcar para deixar um pouco de lado meu aguçado senso crítico. Não queria ferir os sentimentos alheios, contudo não podia ser falso com uma pessoa que considero um grande parceiro e companheiro de armas.
Na fila para comprar a entrada, a cerveja e outras coisinhas mais já batiam levemente na minha massa encefálica. Caí dentro do lugar e vi que não tinha havido nenhuma renovação na cena. As mesmas camisetas de sempre com a velha predominância daquelas em que estavam os estapafúrdios logotipos do Iron Maiden. Parece um time de futebol. Aliás, uma coisa que eu nunca entendi é o porquê dessa “nova geração” querer apenas o trivial, o de fácil assimilação e de ter o visual exatamente igual a tantos outros moleques espinhentos que vicejam nessa cidade. Acendi meu cigarro e pedi outra cerveja e mais uma dose.
Tive o desprazer de escutar um conjunto, que não preciso citar nomes aqui, fazer a abertura e se dar mal. E tocar pior ainda. A cada batida no prato, meus parcos dentes da boca pareciam doer. De primeira pensei comigo que o som da casa estava uma grande merda, para variar. Aturei vinte minutos daquele desserviço sonoro e outra vez fui acalentar meu enfisema pulmonar. Qualquer coisa é melhor do que ouvir um bate estaca pretencioso e sem sentido. Minutos depois (quantos? não faço ideia) entram no pequeno palco da casa três caras iracundos e com semblantes de poucos amigos. Kléber Santos na guitarra e no vocal, meu já citado camarada Gorny portando seu contrabaixo como uma AK47 e um simpático baterista de cabelos longos que atende por Marquinhos. Quando o primeiro acorde soou em meus ouvidos eriçou imediatamente meus cabelos da nuca. Meus olhos se abriram. Minha atenção voltou-se para o palco e o couro comeu solto!
Era puro rock and roll, se é que vocês me entendem. Guitarras em profusão, distorcidas até o talo, o baixo marcado e a bateria tribal bem do jeito que me pega pelo coração. Tenho apenas trinta e um anos de barulho e esse já estava no sangue. É genético. Rock é genético e quem será sempre fiel às raízes desse estilo percebe de longe quando existe algum elemento fake infiltrado no ritmo pelo simples fato de tocar qualquer coisa pelo dinheiro. Não o Macedonia! As letras invocadas de Kléber são ao mesmo tempo sarcásticas, mordazes, ácidas e derramadas da esperança e ternura. Poesia urbana sem nenhuma pretensão. Apenas os pensamentos cotidianos no papel enquanto ele molda riffs inesquecíveis e com uma pegada agradável e ao mesmo tempo ultra pesado e acessível, enquanto seus asseclas fazem a “cama” para ele deitar e rolar. Depois dessa apresentação que engoliu todas as bandas que vieram antes e depois fiquei fã. Fanático. Acompanhei vários shows, fui testemunha da satisfação dos rapazes quando finalizaram esse CD intitulado “Sobretudo”, fiz propaganda e levei amigos para deleitarem-se com o som e, por fim, topei a parada de escrever esse press release pois além do gentil convite sempre apostei no potencial dos caras como músicos e compositores.
Em tempo: depois da gravação por motivos que apenas ele próprio poderia enumerar o baterista Marquinhos saiu da banda dando lugar ao poderoso Diego Jesus (ex- Lesbian Toys) que ao meu modo de perceber colocou mais gás na banda. Sem desmerecer seu antecessor, é claro. E é com muita honra e com o coração cheio de amizade e ternura é que chego ao fim deste não tão longo texto e que somente tenho a dizer que desejo muita sorte aos meus velhos amigos, que foi um prazer inenarrável escrever essas linhas, e que o Macedônia já tem quinze anos de idade e que desejamos mais quinze de muito sucesso e que por amor ao rock essa chama nunca deve se apagar e que se depender desses três o nosso querido e quase sessentão gênero musical está com a sua longevidade garantida. Que venham os novos trabalhos e que sua já imensa legião de fiéis seguidores se multiplique como cogumelos depois da chuva a cada show apresentado. Que o rock nunca morra e ele não morrerá. Por pessoas que acreditam. Por gente como o Macedonia. Que o barulho seja eterno até o mais amargo final. E que no final o sucesso venha para eles. Eles merecem pela árdua batalha.
Geraldo Töpera, 26 de junho de 2012
Geraldo Topera: contista maldito, rato de livraria, mosca de bar, ateu juramentado e praticante, anarcobudista, percussionista profissional, beat sobrevivente, laboratório ambulante, radical ativista da legalização, jogador de general de primeira ordem, fumante empedernido, vocalista da banda E.G.M e BRONCO. Ou seja, um doce de pessoa.
Bronco Rock News informa:
Para ler os escritos do autor, acessar: www.geraldotopera.net
Macedonia no Facebook: www.facebook.com/macedoniabanda
Ouça algumas faixas do cd SobreTudo aqui: http://soundcloud.com/macedonia-banda
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