terça-feira, 23 de outubro de 2012

Cleo e Daniel por Geraldo Topera




Por Geraldo Topera

Meus caros amigos.

Acabo de ler a últma linha do livro "Cleo & Daniel" do nosso querido Somaterapeuta Roberto Freire (favor a todos não confundir como homônimo político crápula e vendido) editado em "pocket book" pela nossa boa e velha L&PM de Porto Alegre. Não sei se conseguirei em palavras expressar a emoção e a sensação que tive ao passar meu olhos atentamente pelas 218 página que jazem nesse volume aparado em meu fiel cajón ao meu lado.


Gente, fui novamente arrebatado! Novo renascer! Meu peito canta. Meu coração regojiza-se diante da iluminação me proporcionada pelo bom doutor. Um romance psicanalítico comovente que outra vez desnuda com coragem e ternura a nossa tão doentia sociedade. Escrito à lápis e publicado no ano de 1966 para mim soou muito atual e creio que deveria ser roteirizado, filmado & levado às telas pela urgência do assunto. E me perguntam meu bons amigos qual seria o assunto. E esse contista maldito que aqui vos escreve também esclarece. O assunto é o ser humano. Chinês, congonês, pequinês e esquimó, como diria meu mentor e guru Nelson Rodrigues (sugo tanto de você, meu necrolócigo escritor, que tenho certeza que nunca conseguirei lhe pagar os dividendos). O ser humano no seu estado puro e bruto. Ou seja, fazendo o que faz melhor. Alimentando preconceitos, querendo o mal do próximo, desejando sem desejo, agonia sem morte, orgasmos sem prazer, atavismo e repetição desenfreada, cristianismo deturpado e a definitiva separação pelo homem do sexo e do amor. Uma história tocante. Todos nós somos os "elefantes e as formigas" e somos Cleo e Daniel. Apenas nos esquecemos disso. Apagamos nossos beijos adolescentes na praça da República às três da tarde e nossas fodas clandestinas da 29 de Março. Soterradas e cheias de escombros de nossas ocupações fúteis, banais e cotidianas a que temos um apreço ainda para mim não explicado. Deixamos para trás essas "bobagens" românticas para nos tornarmos - em maior ou menor grau - autômatos perdidos em nossas tarefas irrelevantes para continuar encenando esse peça estúpida que pela vida social achamos ser verdadeiras. A pureza das crianças é perdida em prol de um "bem maior" ou de se tornar um "cidadão de bem". Ora, pipocas. Balela pura. Nos tornamos simples ovelhas cordatas e esquemas que o termo "cordial" vem de "coração". Um compêndio de emoções humanas imperfeitas como a essa patética e irresponsável criação de um demiurgo qualquer a que colocamos num pedestal feito um Deus. Um deus errado. Um crença errada. Uma existência aberrante que é totalmente desnudada por um psicanalista que de cético e teórico nada tem. Afinal ele também é romancista, teatrólogo e roteirista. É não. Era. Falecido em 2008 com tanta gente boa para morrer primeiro. Mas isso não vem ao caso.

Perguntava o prefácista do dito livro como a geração Facebook iria encarar esse best seller dos confusos anos sessenta e de repente me veio a resposta. Se a alienação e cinismo caratecteriscos dessa turma não for tão inteligente mordaz como creio, encararão essa pequena lição de vida como ele é mesmo. Eros e Tanatos. Amor e morte. A velha luta da id, it e EGO tão proeminente e escancarada dessa turminha que acha que o mundo começou quando eles nasceram. Poderá a bela Milla Silva dizer que estou novamente "masturbando" e elucubrando e que minhas palavras nada mais são do que "argumentos vazios para teorias furadas", contudo tenho a certeza de que agora vou poder dizer que AMO com a plenitude. Que meu amor secular é puro e verdadeiro. Que amo plenamente como o autor de tão linda obra. Que todo meu passado era realmente a atávica caçada e que agora, sem querer, encontrei o sentido de que buscava. O que fazia anteriormente por noites e noites e dias e dias era apenas o que o sociedade com seus cordões de marionetes invisíveis queriam e mandavam fazer. E eu como cordeiro, obedecida sob uma máscara de punk rocker ou seja lá o que fosse, beat, hardcore, existencialismo ou qualquer uma dessas merdas que povoam nosso imaginário totalmente corrompido que a gente tem nesse mundo cão e desigual. Agora posso dizer que "eu te amo" de boca cheia pois o bom doutor me abriu os olhos para o óbvio. O que são os bêbados e os loucos? Nada mais que aqueles que quebraram um mínimo da programação "Deja vù" do "Matrix". Erro na programação! Invasão de Vírus "Avast e quarentena" Prisão e hospício" Choque químico! Pau de arara e "operação malote"! Ditadura do sistema! Ditadura do seu EGO! Sexo sem amor! Amor como melodrama humano e uma libido rala e escassa! O certo e o verdadeiro perante seu pai, sua mãe, sua avó, o policial, o padre ou o pastor, o pai de santo (mais um cigarro, esperando um bom amigo chegar), o delegado, o político eleito, o militar, o "formador de opinião", o juiz e o desembargador. O certo dentro do erro de manter o status quo para o proveito de alguns e a miséria e a ignorância de tantos que vão às urnas cumprir um dever que não sabem nem pra que serve e onde pode levar. A insconsquencia das massas gerando mais violência e inflacionando dia a dia a miséria do planeta. A eterna busca no exterior do que seria a dolorosa e interminável busca interior. Bom escritor é aquele que sacode o leitor e meu amigo espiritual Freire tem vigor naqueles pulsos! AMO, doutor! AMO alguém e esse alguém pode me abandonar ao seu bel prazer porque não sentirei esse abandono e continurei amando. Amando. Por saber que AMOR é cósmico e talvez psicanalitico, oras. Pode me ameaçar pois não é posse e nem desejo e muito menos "querer bem" É retornar da morte que nos impingimos em vida e poder falar em alto e bom tom que amamos. Em qualquer lugar existem mundos. Na sua casa. No seu trabalho inútil que você odeia, em sua universidade escrota que te entope de teoria sem sentido e que depois com um pedaço de papel te manda de volta pras ruas e que lá você se vire, na igreja mal-intencionada que só pensa nos teu trocados que você frequenta apenas por imposição da sua família que no fundo te odeia e que antes de dormir imagina que melhor seria você nem ter nascido. Quando você encontra seu êxtase interior pode preparar-se para ritalina, tegretol, fluoxitina, psicodecin e outros bichos porque realmente você está "lelé da cuca" e precisa de "tratamento". Cocaína é pra gente que não tem mais opção por isso que ela é social e amplamente aceita. Apenas proibida porque gera interesse financeiro para alguém ou algo. Simples assim. É isso que o Doutor Freire quis passar em seu maravilhoso romance.

Você deve estar pensando que a linguagem do livro é complexa e acadêmica, não é mesmo? Outra vez se enganou. Simples para a leitura de uma criança, a minha ou a sua. O gênio é aquele que transforma o difícil em singelo. Tem até palavrões acredite se quiser. E onde eu queria chegar é no fato de que até um enterro de puta tem sua originalidade e beleza. O simples no belo e o belo no simples. Cheguei onde queria. Simplicidade. É aí que reside exatamente a tese do nosso escritor. A regra geral é o contrário. Funda a cabeça do cidadão médio com teoria e estamos feitos. O mais legal é conhecer a regra e quebrar aquela que incomoda ou que não condiz com a minha noção de liberdade e prazer. E agora posso proclamar ao quatro ventos que meu amor é liberdade. Se não for nem começo. Os operários deveriam buscar sua iniciação no chão das fábricas. Zen. Todos somos Cleos e Daniels apenas nos esquecemos disso e continuamos a zanzar por aí feito zumbís perambulantes achando que tudo isso é normal e aceitável. Habitual. De costume. Uma porra!
E assim termina meu post de hoje. Não com mais esperança na humanidade. Ao contrário. E sim muito mais certo que as escolhas que fiz muito jovem me tornaram essa pessoa melhor e mais lúcida que sou agora. E nem por isso necessitei vender minha alma por um favor. Já tinha certeza de amar. E de quem era o ser amado. E hoje a amo com a plenitude por saber que tudo muta inclusive o sentimento. Contudo que esse amor prenhe de liberdade é que faz toda a diferença. Te amo. Plenamente. Longe ou perto. E com o passar das décadas e dos séculos. O que o Roberto Freire fez pela minha cabeça, meu deus! E uma boa noite de sono que não vinha desde o sábado de carnaval! Catarse. Desde esse momento sou um ser melhor. Comigo mesmo. Boa literatura é aquele que faz você rir ou chorar ou as duas coisas ao mesmo tempo.
Amém.

PS: Serviço mais que necessário: "Cleo e Daniel " editora L&PM, Porto Alegre, 1ª Edição, Abril de 2012. Apresentação e Prefácio Ignácio de Loyola Brandão. 1965. R$ 14,00 na Livraria Saraiva. www.lpm.com.br


Geraldo Topera: contista maldito, rato de livraria, mosca de bar, ateu juramentado e praticante, anarcobudista, percussionista profissional, beat sobrevivente, laboratório ambulante, radical ativista da legalização, jogador de general de primeira ordem, fumante empedernido, vocalista da banda E.G.M e BRONCO. Ou seja, um doce de pessoa.


Bronco Rock News informa! Para ler os escritos do autor, acessar: www.geraldotopera.net

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