sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Não existe alternativo em Curitiba! A culpa é de quem?*

Editorial – por Guilherme Guinski
Some o mundo e multiplique por nada. O resultado é a cena dita underground de Curitiba. Explico: o underground pode ser independente, mas ser independente não é o mesmo que ser underground. É essa confusão que irrita. O problema não é ser pop, querer fazer sucesso ou ganhar e ter dinheiro
como os undergrounds daqui acreditam. A cena por aqui ou fica nessa babaquice de “sou tudo isso mas não admito porque sou alternativo” ou em um desejo purista inerte de querer voltar a um passado que ninguém presenciou. Me aponte meio músico daqui que estava entre o público blasé do CBGB’s ou do Max Kansas City, um poser curitiboca que estava comprando roupas com tachinhas da Vivienne Westwood ou um playboy que estava na Califórnia nos anos 80.
“Punk de verdade são os Ramones e os Sex Pistols”! Pode ser, mas o que eles queriam era ganhar dinheiro. E conseguiram. Me aponte alguém sem ambição e ali está uma pessoa em quem não se pode confiar. E por que eles conseguiram? Por que havia alguém com a mente aberta p’ra falar “esses caras estão fazendo uma coisa nova”. O problema é que esse novo já está velho. Agora, vem essa caralhada de bandas em um saudosismo estático repetindo fórmulas ditas puras apenas por convenção. Isso é de um conservadorismo hipócrita sem tamanho.
Não digo que só porque somos brasileiros temos que misturar samba, pagode e maracatu em tudo. Meu caralho! Não! O que eu digo é que bandas nascem e morrem imitando os clássicos três acordes, a atmosfera cabaré-circense, a festa punk gaúcha. Estamos em 2013 e os músicos ainda pagam R$3 mil em um guitarra, mas acham caro um sintetizador de mil. (Sim, estou generalizando, e se você é estúpido demais p’ra ver isso não devia nem ter começado a ler este texto) E, quando uma bandinha pop daqui que usa sintetizador abre o show de outra bandinha internacional, todo mundo acha o máximo por ser uma coisa nova. Não é. Desde os anos 60 já existiam bandas eletrônicas.
Outro grande problema daqui é a mídia. “Meu Deus! A mídia não dá espaço p’ras bandas curitibanas. Que merda. Que foda, nunca vou ser nada na vida porque a mídia não deixa”. Foda-se a mídia e foda-se o sistema. Quer ser underground-alternativo-hippie-punk-hajneesh? Faça a sua música apesar do sistema. Falar que o sistema não deixa é o mesmo que dizer que Deus não quer. O sistema sempre existiu, sempre vai existir e sempre vai querer atrapalhar. Isso não é desculpa p’ra fazer música medíocre e atrasada. Basta o mínimo de foco e organização. A galera do teatro, por pior que seja, é tão organizada que cada proponente pode inscrever dois projetos no Fundo Municipal de Cultura, enquanto os músicos não conseguem dinheiro nem p’ra gravar disco e não têm espaço em quase nenhum grande evento local. A culpa não é do Deus-Sistema, mas de uma classe artística egocêntrica e desorganizada.
A casa de show na Av. Batel não dá espaço p’ras bandas autorais? Quem deixa tocar não paga? Os amigos querem disco e camiseta de graça? Bom, o dono de bar sempre vai ser um filha da puta (muitas vezes com razão) e o público sempre vai querer se aproveitar, por mais “amigo” que seja. Então, quem tem o dever de mudar são as bandas. Reivindicarem o que lhes é de direito com uma atitude séria e profissional, pois só ficar na “locuragem” reclamando do sistema nunca levou ninguém além da sarjeta.

* Nota do editor: O título é só p’ra chamar a atenção. Para nossa felicidade ainda existem bandas como Mecanotremata e Ovos Presley que fazem um ou dois shows por ano!

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